Parte 1
Ontem ao fim do dia, o clímax apoteótico da tragicomédia grega a que assistimos vivendo, (ou vivemos assistindo, sei lá!) martelaram-me a cabeça com a expressão “Coligação Negativa”. Eu tenho um problema (coisa que não preocupa ninguém, e ainda bem, porque realmente só valho 1 voto) com frases e expressões feitas à medida do efeito pretendido em laboratório linguístico-comunicacional. Eu não gosto que tentem colar-me no cérebro chavões políticos à força de tanto os repetirem. E pior que isso, não gosto quando tentam à força dar-lhes um significado, um sentido que tenha algum valor político. Porque simplesmente não têm. "Coligação Negativa" sucks (sorry) e já percebi que vamos ouvi-la até doerem os ouvidos.
O que é isso de “coligação negativa”? Qual coligação? Votar um interesse comum (forçar a queda do governo de José Sócrates) é, só por si, uma coligação política? Qualquer coincidência de interesses, por mais momentânea ou esporádica que seja, é uma coligação? E negativa? Que quer isso dizer? Quem decide a escala positivo/negativo? Foi publicada em Diário da República? E se eu (que valho só 1 voto, tal como José Sócrates) disser que a “coligação”, que nem sequer é uma coligação, foi “positiva”? Este “negativa” (tal como o “positiva”) não é um absoluto, mas à força de repetição eles querem tornar essa relatividade num absoluto. Este é o perigo da retórica de JS (e acólitos, claro): em cada frase, da inverdade - para usar palavras Socráticas - fazer “a” verdade. Como se a verdade se fizesse.
Parte 2
Acredito que JS é um obstáculo à resolução dos problemas do país, e gostava que ele se volatilizasse (e fosse tentar ser feliz longe de nós), mas quem acredita nisso acredita no Pai Natal. Ontem à noite, ele fez um bom discurso de início da campanha que ele desejou ter e cujo momento para ter ele decidiu. Forte, determinado e sempre confiante a usar a sua retórica recheada de “inverdades”, isto é mentiras, ditas com a segurança e a firmeza de quem fala verdade. Sócrates ontem estava como peixe na água, e a gostar de lá estar. Passos Coelho nem sabe o que o espera.
Passos Coelho nunca me entusiasmou, nem sequer o desejava como líder da oposição, mas desejo-lhe sinceramente boa sorte pois remover JS do cenário da política nacional é o interesse comum que partilhamos (uma coligação?) pelo menos para já. No entanto PC que se ponha a pau (perdoe-se o plebeísmo). O seu discurso de ontem foi fraco quer no conteúdo, quer na forma. Foi um discurso redondo, "certinho" demais, incapaz de suscitar interesse, a querer dar ares de cavalheiro na política, mas pouco, pouquíssimo convincente. É preciso muito mais para derrotar Sócrates. Temo que PC se arrisca a ser triturado. José Sócrates num instante faz dele um picadinho. Mas o PSD é que sabe... e quando Manuela Ferreira Leite falou de “Política de Verdade” acusaram-na de não saber comunicar. Tentem fugir desse guião (que tem a vantagem de com ele poderem falar verdade) e verão o que sobra, para vós e para nós.