07/02/12

Exigência

A percepção de Pedro Passos Coelho sobre a realidade tem a sua génese, e tem sido aí apurada, em gabinetes e salas de reunião do partido. O problema é que, tal como afirmei no post anterior, a realidade não se compadece com confabulações teóricas sobre si, e é normalmente muito mais crua e brutal. É feita de sacrifícios, de redução de salários, de desemprego, de dinheiro que não chega para pagar as contas da farmácia, de preços de transportes a aumentar drasticamente. Ora, os portugueses não têm sido nada “piegas” – para usar a infeliz expressão do Primeiro-ministro – têm, de forma geral, aceite o inevitável com relativa calma e resignação e lamentam que o chefe do executivo olhe para eles com superioridade paternalista e alguma arrogância e lhes diga para não serem "piegas", num discurso feito sobretudo para justificar a sua infeliz decisão de acabar com a tolerância de ponto no Carnaval. PPP discorre sobre o “passado”, as “velhas tradições”, “velhos comportamentos preguiçosos” e a “crise” e a necessidade de sermos exigentes (muitas vezes usou a palavra exigência...) Estou de acordo e até proponho que comecemos por ser exigentes com o governo e sobretudo com o senhor Primeiro-ministro. 

As leituras filosóficas que Passos Coelho fez na sua juventude não foram suficientes para impedir um discurso tão desprovido de sentido, mas tão cheio de chavões e demagogia que até chega a ser ridículo. Pedro Passos Coelho tem, infelizmente, e em mais do que uma ocasião, mostrado algum desprezo pelos portugueses, e não tem sabido reconhecer neste momento particularmente difícil em que vivem, os sacrifícios que, em silêncio, a grande maioria faz e sabe que tem de continuar a fazer. 

Arquivo do blogue

Acerca de mim

temposevontades(at)gmail.com