31/12/11

Um Grão de Sal

Henry Matisse
Still Life after Jan Davidsz. de Heem's "La Desserte"



Desejo a todos os que visitam e /ou lêem este blogue um Bom Ano de 2012

23/12/11

Museu Municipal - Bologna


UM SANTO NATAL

18/12/11

Horae Subsicivae 3

Caravaggio
The Lute Player

Miguel Relvas, uma espécie de Doppelgänger de Passos Coelho assegura-nos que o governo prepara fórmulas (o fumo a sair dos tanques pensantes) quer para o crescimento da economia quer para combater o desemprego. Passos Coelho dá logo uma ajuda repetindo o que já outros membros do governo tinham sugerido: emigrar. Parece uma boa solução: não sei se ajuda o crescimento, mas ajuda muito o desemprego e sobretudo ajuda muito os governantes incompetentes. Com um eleitorado menos insatisfeito e com o desemprego reduzido, a necessidade de fazer política séria e justa, de ter uma visão do futuro e de fazer as tão necessárias, tão anunciadas, tão prometidas mas tão temidas (pelos políticos, claro) reformas, é menos notória e quaisquer medidas periodicamente anunciadas em telejornais iludem eleitores e até passam por ‘reformas’. 

Realmente mal se percebe a ideia de um governo que reitera a sugestão da emigração e pergunto-me se nunca terá passado pela cabeça de alguns dos membros deste governo que os portugueses, mesmo desempregados e insatisfeitos, nascidos e criados em Portugal queiram, melhor ou pior, continuar a sua vida em Portugal? Que há de errado nisso? Presumo que a emigração não passe a ser obrigatória nem para os desempregados nem tão pouco para os insatisfeitos. Quanto mais não seja (é só fazer contas) alguém tem que ficar para pagar os impostos.

17/12/11

Finalmente em Paz

Li há já alguns anos uma entrevista que Cesária Évora deu a à revista ELLE (edição francesa) em que ela dizia de Portugal e dos portugueses o que Deus não diz do demónio nem do inferno. Fiquei chocada pois em Portugal todos gostavam dela. Essa foi a primeira vez, depois em mais e mais entrevistas a publicações francesas, e não só, pude confirmar de cada vez o mesmo tom de rancor, desprezo e ódio a Portugal. Nunca percebi porque é que ela vinha cá e cantava cá. Nas entrevistas, e intervenções públicas aos meio de comunicação social portuguesas ela era mais comedida nesse rancor, desprezo e ódio e tentava fazê-lo passar por ódio ao país de antes do 25 de Abril. A mim não me enganou. Também nunca percebi porque é que nós fazíamos de conta que não sabíamos o que ela dizia do país, e continuávamos abrir-lhe as e encher as salas de espectáculos. Apesar de lhe reconhecer mérito enquanto cantora nunca mais quis saber de Cesária Évora que julgava ter idade suficiente para saber não nutrir tantos ódios. Para mim ela já morreu há muito. Agora que descanse finalmente em paz.

Ir ao Cinema


A Dívida, revelou-se uma excelente ida ao cinema. Um thriller de espionagem feito com inteligência e imaginação suficientes, um plot com suspense e acção na boa dose, mas sem complicadas teses a provar ou defender, nem ‘statements’ estéticos e simbólicos ‘out of the box’ a obrigar a uma ‘leitura’ ou a um maior envolvimento do espectador. Boa realização, muita acção, mas sem efeitos especiais nem explosões a cada 5 minutos, coisas que me agradam. No entanto os críticos não valorizaram muito um bom filme de entretenimento. Para mim é cinema puro e duro, sem ‘nuances’, sem ‘leituras’, sem ‘paradigmas’.



Outra igualmente boa ida ao cinema foi com Os Idos de Março. Este drama político conta com excelentes representações mesmo (ou até sobretudo) nos papeis secundários, e pude pela primeira vez perceber quem era Ryan Goslyn. É um filme mais subtil que o anterior e vale pelas relações/ligações entre personagens, a teia que se vai tecendo entre sondagens, política de comunicação e a imagem do político. Realização enxuta. Um bom filme também e os críticos gostaram mais do que do anterior. (Eu nunca os percebo).

16/12/11

Cores de Outono 13


Uma Questão de Educação


Só ontem vi e ouvi na televisão as declarações do deputado e vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Pedro Nuno Santos. Fiquei siderada. Não me restam dúvidas de que estamos a ser invadidos pelos bárbaros, (agora eles não vêm necessariamente do norte) e de que a decadência da nossa civilização é um dado adquirido. O tipo de linguagem e de imagens usadas pelo deputado está abaixo do nível da conversa de portaria e roça a grunhisse de quem apenas conhece três mil palavras e só usa mil, mas o que se sugere é a mais viva imagem da decadência civilizacional pois já nem é meramente uma questão política, é sobretudo uma questão de educação e de valores. Lamento que na devida altura (bem cedo na infância) ninguém tenha ensinado ao deputado que as dívidas são para ser pagas. Ponto. Que tudo se deve fazer, sem descanso, para as pagar. Ponto. Mas pelos vistos agora, como dizia há umas semanas o seu mentor José Sócrates, quando se estuda economia (na universidade? em qual?) estuda-se que as dívidas dos estados nunca se pagam... Eu não tenho dúvidas: prefiro o que me ensinaram na infância.

Pedro Nuno Santos ameaça os ‘banqueiros alemães’, mas engana-se no alvo. Deveria ameaçar quem, em nosso nome e em meu nome, recusando encarar a realidade e refugiando-se na pura demagogia populista, se endividou indevidamente (perdoe-se aliteração). Ou, ao limite, aqueles que permitiram que em nome de Portugal o então governo contraísse as dívidas que hoje temos. Os eleitores de então (2009) preferiram a conversa oca, demagógica e irrealista bem como o marketing político e comunicacional de um incompetente (e estou a ser contida nos adjectivos), à linguagem realista e dura de uma ‘velha’ (que me perdoe a Dr. Manuela Ferreira Leite) que não acredita nem contrata agências de marketing político ou comunicacional.

O deputado Pedro Nuno Santos é a imagem de tudo o que me causa desprezo: irresponsabilidade, leviandade, a falta de educação, a linguagem rasca, o desconhecimento de valores como a honra, o peso da palavra dada, a dignidade, a educação. A bancada do PS em vez de minimizar e desculpar as declarações deste deputado, deveria, por uma questão de higiene, demarcar-se frontalmente e fazê-lo desaparecer. Seria desejável enterrar de vez a ‘era Sócrates’.

15/12/11

Cores de Outono 12



Parece ser sina da condição de Presidente da França deixar atrás de si, ao sair do Eliseu uma névoa de corrupção ou um rasto de suspeita que se estende por vários membros da família e amigos. Histórias não faltam, investigações também não. Hoje Chirac é condenado pelo tribunal por actos praticados enquanto Maire de Paris (entre 1977 e 1995). O processo demorou, mas houve sentença e houve condenação. Sei de países onde os processos demoram, demoram, demoram mais, agitam-se provas, debatem-se detalhes processuais, demoram mais ainda e prescrevem, ou arquivam-se. Raramente é lida uma sentença e menos vezes ainda o tribunal condena seja quem for pelos actos ilícitos provados. 

14/12/11

Habemus Papam



Nanni Moretti faz um filme delicioso, cheio de humor e com um olhar terno sobre as personagens e situações inesperadas. Podíamos falar da solidão do poder, do medo, da insegurança face às responsabilidades, e neste aspecto meramente humano a narrativa flui sem sobressaltos numa boa realização, com boa fotografia e com a ajuda de Michel Piccoli. Mas (claro que tinha que vir um ‘mas’) fiquei um pouco desiludida. A esta visão ‘humana’, chamemos assim à dimensão psicológica explorada no filme, falta-lhe a visão institucional, para não falar da dimensão da fé. Um Papa (seja ele qual for) não é apenas um homem só, com inseguranças, medos, etc. Um Papa é um Papa: um homem de fé, que no momento em que aceita a sua eleição pontífica, carrega irremediavelmente consigo uma responsabilidade para com a Igreja (instituição e fieis) à qual nenhum ‘estado de alma’ o faz afastar-se. Como o filme mostra, num dos seus melhores momentos, hoje muitos dos eleitos nunca desejaram o cargo, mas aceitam-no. (É, por exemplo, o que consta ser o caso de Bento XVI) A Igreja, enquanto instituição e sendo o Papa a cabeça dessa instituição, não se permite nem conhece os ‘estados de alma’ que servem de ponto de partida da narrativa. Esta dimensão ‘institucional’ que falta ao filme impede-o de ser um bom filme: assim não é mais do que um simpático mas muito superficial exercício especulativo. 

Recomeçar 2


Hoje, depois da poeira de ontem assentar, é dia de mais um recomeço. Como Sísifo, condenado a recomeçar de cada vez que o fim se aproxima. Ele está condenado a nunca contemplar um ‘trabalho’ feito e é assim que por vezes me sinto. Quando parece que a vida está como é suposta estar e as ideias parecem organizadas: três ou quatro certezas que apesar de qualquer vento as abanar vão resistindo e um mundo de incertezas do qual conseguimos arrumar direitinhas por categorias, algumas delas, lemos a notícia de um homem que sobe para um telhado e começa a disparar e atirar granadas sobre as pessoas que passam para depois se matar. Posteriormente um corpo de mulher é encontrado em sua casa. Como é que se pode perceber este gesto? O que é que passa pela cabeça de uma pessoa para que ela decida desta forma intencional atacar desconhecidos? O que é que a motiva? 

11/12/11

Coisas Que se Podem Fazer ao Domingo 66

René Saint-Marceaux
Sketch of a Man Reclining



Evitar cair no abismo

A Europa (e Vasco Pulido Valente)

Acho que nunca citei com muita frequência Vasco Pulido Valente. Há algo no seu cepticismo sistémico e nada metódico e na sua constante falta de entusiasmo (alguém se lembra de ele algum dia ter louvado algo, ou alguém?) que por vezes me cansa o que me afasta um pouco do seu ‘pathos’. No entanto ele conhece a nossa história recente, escreve muito bem e é dono de um sentido de humor que aprecio o que me obriga a olhar para as suas crónicas, e ao fim da segunda linha já sei se a leio até ao fim ou não. Ontem e hoje não só as li como concordei com o que ele diz, e reproduzo aqui dois excertos: 

VPV Público de ontem. 

VPV Público de hoje. 

Hoje olho para a Europa política e mal reconheço. Em tempos de dúvida, incertezas, ou de guerra (com outras armas que não as bélicas), como há já quem o afirme, eu também sei de que lado estou e é do mesmo lado que VPV. Merkel e Sarkozy não me convencem com o proposta de tratado intergovernamental escrito nos escritórios de Bruxelas (ou Berlim?). A pouco e pouco, e de preferência sem notarmos (nós os europeus não alemães) nem protestarmos, a Alemanha afirma-se como ‘a’ potência europeia, impõe a sua vontade, ganha tempo e engana-se a si e aos parceiros europeus com medidas que são pouco mais do que cosméticas e de efeito a curto prazo, notando-se a total ausência (recusa) de visão sobre os problemas de fundo que a Europa enfrenta, (perda de competitividade, envelhecimento da população, insustentabilidade do estado social...) e que começam já a assombrar-nos, Alemanha incluida.

06/12/11


Se por acaso alguém andava já com saudades das vítimas de cabalas que abundavam antes de Junho, não precisa de procurar longe: está aqui uma. O tipo de linguagem usado (os bonbons, bolo de mel, tapete vermelho) está mais próxima do paradigma ‘reality show’ do que da linguagem usada em política. mas talvez seja isso que Alberto João Jardim procura. AJJ vai espaçando cada vez mais aqueles breves momentos de lucidez visionária que permitiam que não o desconsiderássemos totalmente. Não me lembro de quando foi o último desses momentos, mas foi seguramente há muito. Agora é, por escolha sua, praticamente uma caricatura daquilo que os seus adversários sempre disseram dele.

Cores de Outono 11

Mark Rothko
No 16 (Red, Brown, and Black)

O artista geralmente acha que é muito amado...” Muito refrescante este vídeo encontrado no sempre inesperado fworld de Fátima Rolo Duarte. Chico Buarque é obrigado a olhar para si de outra forma e é impossível não rir. A ler também o pequeno texto que acompanha o vídeo. E, claro, "se morrer, morreu; e já vai tarde demais..."

05/12/11


Ainda bem que a patetice não mata ninguém. Frases como esta “Não entendo porque não se fala em sanções para quem tem excedentes e não os coloca ao serviço da economia” ilustram bem a ligeireza irresponsável de António José Seguro, e um sentido de timing perfeito.

30/11/11

Amanhecer 34

Hoje

Um Método Perigoso


David Cronenberg, um realizador de que gosto (há já muito tempo), Michael Fassbender, um actor de que gosto (há pouco tempo) e Viggo Mortensen, outro actor de que já há muito que gosto sobretudo quando se junta a Cronenberg (Uma História de Violência, Promessas Perigosas), são convite irrecusável para ir ao cinema. Em tempos de filmes com deficit de inteligência, (podia dar uma ampla lista de exemplos recentes, mas não maço quem me quiser ler) decidi apostar neste, e valeu a pena – A Dangerous Method (Um Método Perigoso) é um bom filme. Cronenberg constrói narrativas em que evidencia o corpo humano, e através das suas personagens, ele gosta de testar, buscar e explorar, de formas distintas claro, os limites desse mesmo corpo, de formas por vezes espectaculares (A Mosca). Este filme, se não é diferente nessa exploração do corpo, dos seus limites, das suas pulsões, é-o do ponto de vista formal – menos efeitos, menos ‘chocante’, e é-o porque o ultrapassa essa busca corporal, o limite do corpo é o limite de si. A substância que lhe dá matéria é o desejo, ir ao limite do desejo ou esbarrar nas peias que impomos ou são impostas ao desejo. O desejo sexual é o mais óbvio no filme, mas não o único. O próprio desejo sexual é objecto de reflexão por parte das personagens que buscam o entendimento da essência da natureza humana das pulsões que fazem essa natureza. Interessante notar que, tal como o filme mostra, Sabina Spielrein, primeiro paciente de Carl Jung e depois sua colega, associa na sua pesquisa e trabalho – e aparentemente pela primeira vez na história da psicanálise – a pulsão sexual à pulsão de morte e de transformação. Os limites do corpo, do desejo, os limites do ‘ser’. 

Sabina (uma competente Keira Knightley) sofre de um distúrbio psíquico e é tratada por Carl Jung (um Michael Fassbender impecável e muito convincente) e a sua terapia abre a porta a uma intensa relação entre ambos. Nela, Sabina ousa os limites e a essência do filme é o retrato, sem exageros mas de forma gráfica, da enorme cumplicidade de corpo e mente entre Sabina e Jung. Corpo e mente em transformação, e a dependência de ambos que cresce alheia ao olhar dos outros e longe dos constrangimentos que a sociedade impõe. Até um dia... porque Jung é mais contido que Sabina. Esta irá percorrer um longo caminho para lá dos limites físicos e no fim a mente começará a sossegar numa aceitável ‘normalidade’: regressa aos estudos tornando-se também ela uma psicanalista, e construirá uma vida profissional tendo tido contactos com Freud, e pessoal. Na cena final vemo-la grávida e, apesar de alguma nostalgia, ela sabe optar e conformar-se com as suas escolhas, num contraste profundo com a conturbada Sabina da primeira cena em que aparece no filme, em que os planos são dominados pela sua disfunção ‘física’, num momento ‘clássico Cronemberg’. 

Jung, mais velho, moldado pela vida, pelo que a sociedade espera dele, é mais contido. No entanto está dividido e o seu desejo toma diversas direcções: em relação a Sabina a sua grande cúmplice, em relação à família que ele sente como um porto seguro, mas também de forma muito explícita em relação a Freud cuja aprovação, reconhecimento e amizade ele tanto procura e deseja. Os dois homens conhecem-se, correspondem-se, estabelecem uma relação, mas um dia tornam-se evidentes as divergências teóricas e profissionais, em relação aos conceitos e métodos, e esta divergência provoca um irreversível afastamento entre ambos. Na cena final do filme é Jung que, sem ter transposto (ainda) o limite de si, está fragilizado, perdido nas suas insatisfações e contradições, o seu desejo insatisfeito e preso no seu corpo. Agora não tem nem Sabina nem Freud. Também neste caso é evidente o contraste com o Jung seguro e senhor de si da primeira cena do filme em que ele e Sabina se encontram. 

No filme Freud aparece como um objecto de desejo. Jung tal como, em menor grau, Sabina desejam a sua boa opinião e olham com reverência para ele tendo Sabina, por exemplo, exigindo que Jung esclarecesse de forma verdadeira Freud sobre o tipo de relação que ele e Sabina mantinham, e ambos, no decurso das respectivas carreiras profissionais na área da psicanálise, valorizam e desejam o reconhecimento de Freud. No entanto Freud é uma personagem secundária do filme, e é-nos apresentado como um burguês algo frustrado e prisioneiro de si próprio e do seu mundo. É um judeu e não um ariano (como lembra a Jung), tem filhos a mais num apartamento que considera pequeno (por oposição a Jung), tem dinheiro a menos, sente a falta do reconhecimento por parte de outras classes médicas e profissionais que crê merecer, e desconfia do olhar da sociedade sobre ele. A sua fragilidade é, no filme, explorada na sua vertente intelectual e pessoal, nos encontros, debates e conversas com Jung em que ele teme colocar-se numa posição intelectualmente secundária face a Jung. Este percebe e repara nessa recusa de uma maior abertura e uma entrega (também afectiva?) mais sincera, nomeadamente na recusa de Freud contar o seu sonho. Freud parece estar fechado sobre si, dominado pelas frustrações, descontentamentos e medos. 

Ao olhar para cada uma das suas personagens, Cronenberg, numa narrativa segura e elegante, toca na essência da natureza humana, a pulsão de vida ou de morte, e na sua capacidade transformadora. Jung e Freud que estudam a psique, os comportamentos e os mecanismos da transformação do seu humano (através da terapia) não ultrapassam as suas contradições. Teoricamente são apologistas da libertação do ser e como profissionais ajudam os seus pacientes a libertarem-se das suas amarras como as frustrações, más memorias, obsessões, mas eles aparecem como sendo tão pouco livres e afinal não é só do corpo que são (somos) prisioneiros.

28/11/11

Cores de Outono 10

Mark Rothko
No. 37/No. 19 (Slate Blue and Brown on Plum)

27/11/11

Vai Repetindo e Lembrando


Numa semana em que já não se pode ouvir falar mais de fado e ouvir mais nenhum fado, lembrei um dos poucos (se considerarmos o universo de fados) que nunca me canso de ouvir.

Excessos de Pólen

Fiquei surpreendida por não ter visto/lido/ouvido nenhum comentário sobre a forma como foi iniciada a grande manifestação contra o governo egípcio na praça Tarhir. 


Vi na televisão a imagem de toda uma multidão – sem excepções – a participar nas orações. Não vi outros que não muçulmanos: não vi pessoas de pé que não se ajoelhassem em determinadas alturas da oração. A coreografia concertada (e a absoluta unanimidade) da oração numa manifestação política contra um governo militar, pró-democracia, e a favor de um governo civil, é arrepiante. Estranho é também o facto de não ter visto mulheres (ao contrário do que se passou nas manifestações de Maio) a tomarem parte nos protestos, e respectivas oraçães(!). As pretensões democráticas de tais manifestantes (e respectivas reivindicações) deixam muito a desejar, e são exactamente o que nós não gostamos em democracia.  Como não temer o pior? Querem que saia o governo militar para que ceda o lugar a um governo ‘civil’ religioso? 

Foi tão óbvia para mim a leitura desta manifestação, que me admira ela não ter sido objecto de mais discussão comentário e crítica. Pelos vistos a opinião pública ‘ocidental’ continua anestesiada com o excesso de pólen da ‘primavera árabe’. Tenho vontade de perguntar, num exercício meramente especulativo, se aqui em Portugal (por exemplo) alguém estranharia que uma manifestação política de protesto (como no dia da greve geral, por exemplo também) fosse iniciada com uma missa celebrada por um bispo de Lisboa. Eu, católica estranharia. Eu não o quereria. Mas isso digo eu, que para muitos parece ser normal iniciar manifestações políticas com orações.

26/11/11

Horae Subsicivae 2


Simon de Vos
Gathering of Smokers and Drinkers

O que Sobra

Há uns meses assistíamos e enumerávamos criticamente os famosos encontros a dois entre Merkel e Sarkozy. Indiferentes à irritação de muitos europeus que se perguntavam se ‘isso’ é que era a União Europeia, eles encontravam-se (os inúmeros ‘beijinhos’ trocados à vista de todos ilustram as ocasiões) e cochichavam, mas aparentemente nunca tais encontros pareceram dar fruto, e entenda-se aqui 'fruto' como uma qualquer decisão (já nem sou exigente, uma qualquer). Aposto que ficarão para a história como isso mesmo: cochichos.

Depois desses encontros a dois ilustrados a ‘beijinhos’, a nossa atenção foi desviada unicamente para a senhora Merkel, cada palavra, cada tique, cada entoação, cada gesto: começa a confusão pois ao estarmos atentos é-nos impossível não ver as contradições, as incertezas, a demagogia, a fraqueza disfarçada pela retórica. Os comentadores, os artigos de opinião por essa Europa fora tentam interpretar as intenções, o que vem a seguir. Grécia, Itália, Espanha (por ordem cronológica e mediática), bem como a iniciativa de Durão Barroso quase que não importavam por si, mas sim pela reacção da senhora Merkel que cada vez mais se funde e identifica com o seu país a Alemanha. O que é que a Alemanha acha? O que é que a Alemanha pensa? A Alemanha isto, a Alemanha aquilo. Posteriormente começam os sussurros sobre a França e a Bélgica.

Nesta semana reataram os encontros a dois, e Merkel e Sarcozy falam de revisão dos tratados, falam do BCE. Será que finalmente se vê o fruto de tantas conversas a dois? Creio que virá tarde demais. A partir de agora já todos os olhos se viram para a Alemanha e começam as apostas sobre quanto tempo levará até que a crise da dívida soberana atinja a Alemanha. O que sobrará desta Europa (UE), que os estados criaram e que conhecemos, é agora a questão pertinente.

18/11/11

Entardecer 23

"Esta Ridícula Ilusão que em Portugal se Chama Teatro"

Ainda a propósito de Teatro de do D. Maria, excertos (meus) de um inspirado texto (certeiro e divertido) sobre a ilusão do teatro em Portugal de Vasco Pulido Valente no jornal Público de hoje. (sem link para o texto)

(…) para muita gente o teatro na aparência (repito: na aparência) não exige uma educação e uma competência técnica verificável e universal. Na música, no ballet ou na dança existem critérios que definem um profissional com uma certa objectividade. Mas basta que se defina um “palco”, que na prática não passa de um espaço arbitrariamente definido, seja ele qual for, para, em teoria, o que sucede lá dentro seja, ou possa ser, declarado teatro. E, se alguém protesta contra a qualidade do putativo “espectáculo” que lhe oferecem, é por uma única razão: não conseguiu penetrar a intenção estética do exercício.

Este estatuto privilegiado (…) fez com que proliferassem dezenas de grupos de teatro por todo o país, mesmo nos mais remotos cantos da província. Ainda por cima, por razões de ignorância e popularidade, certos ministros compraram a eito os velhos cine- teatros de 1920 e 1930, de que as câmaras estavam mortas por se livrar, dando um centro e um sítio a quem se sentia (e quemse não sente?) com uma vocação “dramática”.

(…) Nada disto, claro, serve, ou jamais serviu, rigorosamente para nada. Em 37 anos não apareceu uma única obra decente de dramaturgia portuguesa. (…) Até o Teatro Nacional D. Maria II, na impossibilidade de se ficar eternamente no Frei Luís de Sousa, apresenta geralmente traduções. De resto, não lhe falta só dramaturgia portuguesa. Também lhe falta público. Uma noite no D. Maria é uma noite soturna. Francisco José Viegas cortou o orçamento (um milhão de euros) deste longo equívoco. Foi inteiramente justo. E, quando Diogo Infante resolveu recorrer à intimidação, não hesitou em o demitir. Chegou a altura de acabar com esta ridícula ilusão que em Portugal se chama “teatro”.
Vasco Pulido Valente no Público de hoje.


17/11/11

Ontem ao ler a notícia de que o Director Artístico do Teatro Nacional suspendera a programação só tive um pensamento: têm que o pôr na rua! Hoje de manhã fiquei satisfeita quando ouvi que isso mesmo tinha sido feito. Este tipo de atitudes de pseudo ‘rebeldia’ e de desafio ‘às instâncias superiores’ impressiona-me zero e é-me muito pouco simpática, sobretudo quando não se trata de adolescentes. Ficam então as ‘divas’. Nada contra, antes pelo contrário, (dão colorido à vida) desde que o sejam à sua própria custa. Diogo Infante claramente não se enxerga e deve achar que o Estado lhe deve muito e país também. Ele é que, no exercício do seu cargo, deve. A suspensão da programação, com tudo o que isso implica é uma atitude muito pouco elegante, mas sobretudo irresponsável e leviana demonstrando entre outras coisas nenhum respeito pelos contribuintes. E se o é em quaisquer circunstâncias, é-o ainda mais em tempos de contenção, de dificuldades, de ‘vacas magras’. Nunca lhe passou pela cabeça apresentar a sua demissão, mas ameaçar e tentar encostar o Estado à parede cancelando a programação, sim. Feio, muito feio.

14/11/11

Cores de Outono 9

13/11/11

Indignation 2

(Primeira parte aqui)

Esta é uma narrativa sobre o último ano da vida de Marcus, e nada neste período o marca mais do que a sua primeira experiência sexual. Marca ao ponto de determinar a futura sucessão de eventos que, de forma inabalável, o condiciona nas suas opções. Num capítulo único, combinando de forma surpreendente os seus ingredientes preferidos, sexo e morte, Roth muda o tom da novela. Da pura narrativa passamos para um tom mais reflectivo e confessional. O jovem Marcus, já morto, olha para trás e analisa cada detalhe desse primeiro e surpreendente encontro sexual. Porquê? Como? Como ler o gesto de Olívia?

Even now (if “now” can be said to mean anything any longer), beyond corporeal existence, alive as I am here (if “here" or “I” means anything) as memory alone (if “memory”, strictly speaking, is the all-embracing médium in which I am being sustained as “myself”), I continue to puzzle over Olivia’s actions. Is that what eternity is for, to muck over a lifetime’s minutiae?

O capítulo é intenso , quer porque essa “minutiae” é exposta de todas as formas que Marcus (já morto) consegue explorar, quer porque ele se interroga sobre a natureza do seu estado e a natureza da morte,

(...) I have a strange suspicion that you can die here too (...),

o papel da memória enquanto parte desse estado,

(...) But dream or no dream, here there is nothing to think about but the bygone life. Does that make “here” hell? Or heaven?

o juízo final (so to speak),

And the judgment is endless, though not because some deity judges you, but because your actions are naggingly being judged for all the time by yourself. (...) retelling my own story to myself round the clock in a clockless world.

Neste mesmo capítulo, e apesar das dúvidas e interrogações que o gesto de Olívia lhe suscitam, percebemos a inevitabilidade (obrigação?) do jovem Marcus se apaixonar por Olívia, a rapariga da cicatriz. O ‘pathos’ da novela tem a sua origem neste momento, a novela atinge o seu clímax e muda o tom: a intensidade duplica. A vida, para Marcus, deixa de ser feita de ideias claras e simples e decisões lineares, para ganhar em perplexidade, em textura e densidade.

É neste registo intenso e quase urgente de se sentir ‘ser’ e ‘viver’ que eu aprecio mais Roth, e Indignation faz jus ao autor. Um livro que não se pousa enquanto não se acaba: a palavra certa no sítio certo, as frases cheias de ‘meaning’ que se sucedem, a intensidade de estar vivo, de ser jovem e de ter o sangue ‘quente’. Todos estes ingredientes conjugados em rara intensidade, mas de uma forma tão desprovida de pretensão e esforço que, fosse eu escritora, poderia invejar. Assim limito-me a gozar.

11/11/11

Dando Excessivamente sobre o Mar 61

Charles Cottet
Evening Light at the Port of Camaret

03/11/11


Como não sou (ainda) bruxa, não previ este novo acto do drama grego de ‘sim referendo’, ‘não referendo’, em que o protagonista – de tanta volta e contravolta que tem dado e de tanto psicodrama encenado - provavelmente já não sabe quem é (se é que alguma vez o soube). Até eu estou tonta e perdida, e não sou grega. Uma coisa é certa: não gosto da atmosfera que antecede a tempestade: o ar é pesado, o ambiente abafado, os pés que se arrastam, a pressão que aumenta (atmosfericamente falando ela baixa, claro) e já só queremos uma boa chuvada, ventos e trovoadas. Em relação à UE sinto isso mesmo: acabe-se o medo, os paninhos quentes, as palmadinhas nas costas, as conversas de pé de orelha Merkel/Sarkozy, os juízos, as ameaças, as lições de moral; venham as crises e as dissidências depressa, zanguem-se as comadres, deixem o euro desvalorizar. Veremos se o ar não fica mais leve e se não podemos finalmente começar o trabalho de reconstrução.

02/11/11

Amanhecer 33

Na semana passada amanhecia assim...

01/11/11


Vale o que vale, mas esta divisão de campos na hora de votar a adesão da Palestina à UNESCO, mostra como a União Europeia é mais uma (des)União que fala a múltiplas vozes defendendo múltiplos, e por vezes contraditórios interesses, e mostra como uma ‘união’ é algo do domínio da utopia e dos discursos inflamados. Se hoje os problemas financeiros e económicos surgem como o pomo de discórdia entre os 27/17, esta notícia mostra a amplitude da dissonância. Não fiquei surpreendida; fiquei-o só porque já nenhum estado nem ninguém a tenta disfarçar. A união pode fazer a força, mas não se faz à força (de tratados “porreiro, pá!”, por exemplo).

30/10/11

Coisas que se Podem Fazer ao Domingo 65

James Pradier
Les Trois Grâces


Relembrar cada momento do dia de ontem.

A Síria não é a Líbia

E na Síria o povo pode morrer à vontade, e o ditador ameaçar, que o barulho não se faz ouvir e a NATO não tem planos para lá ir.

28/10/11

Não Há Nada Para Ver na Televisão 2

Jan Steen
The Drunken Couple

Interessante

Ontem enquanto folheava o Expresso online vi uma notícia sobre a Gala Dragão de Ouro. Sou portista (de sofá) desde que me lembro de existir embora tenha apenas uma incipiente paixão por futebol. Sou portanto uma portista muito básica: saber se o Porto ganhou ou não, em que lugar vai no campeonato, saber por quanto ganha ao Benfica, e saber como anda nas competições europeias. Sigo alguns jogos (com o Benfica sobretudo), vejo, com um só olho, três ou quatro jogos por época das competições europeias, e às vezes até aprecio o humor de Pinto da Costa. É tudo; mas é o suficiente para abrir a galeria de fotografias da Gala Dragão de Ouro - ver quem lá estava, quem foi premiado, e claro, ver as toilettes das ‘esposas’ dos futebolistas. O facto é que nenhuma das toilettes me surpreendeu tanto quanto as personagens que vi na primeira fotografia da galeria que se revela muito interessante: um risonho Miguel Relvas está lá. Apesar de ser o ministro que tutela o desporto, esse facto não me parece motivo suficiente para marcar presença numa gala de um clube que premeia exclusivamente pessoas desse, ou a trabalhar para esse clube: será que MR também vai às festas e galas do Portimonense, do Paços de Ferreira, do Gil Vicente ou do Rio Ave?

Presumo então que seja portista, coisa que não sabia. Aliás sei muito pouco sobre Miguel Relvas, é uma personagem que nunca me interessou nada. Mas estou a ver que isso vai mudar e a pouco e pouco Miguel Relvas começa a interessar-me: onde há dinheiro, poder ou influência ele ‘está lá’. E até está mais ‘lá’ do que o nosso Primeiro-ministro, algo que me intriga. Está na controversa privatização do BPN, está no imbróglio da (também controversa) privatização da RTP que ele decidiu e por ele assumida, mesmo antes de serem conhecidas as conclusões do grupo de trabalho sobre Serviço Público (nomeada por ele) e que poderia/deveria influenciar a decisão e condições de privatização do canal público, e agora está com Pinto da Costa na gala do FCP. Eu se fosse jornalista não perderia o rasto deste senhor.

27/10/11

Velas 31

Para Que Serve um Telefone Fixo Hoje

Hoje ouvia na rua um senhor dizer que agora todos querem vender, mas ninguém quer comprar. Não me lembro de sentir tanto isso como agora, e o meu telefone fixo é a prova dessa ânsia de venda. Todos os dias recebo emails promocionais de fabulosas ofertas, ou sms publicitando uns descontos imperdíveis de dois dia para os melhores e mais fieis clientes (!). De repente percebi que, para alem das lojas onde vou habitualmente, sou também fiel e boa cliente de lojas onde não vou há quatro ou cinco anos, ou onde há sete ou oito terei deixado um contacto numa ida esporádica. Recuperam-se fichas, farejam-se os registos, tudo para a custos mínimos aliciar possíveis clientes. Mas emails e sms não são o pior.

O pior mesmo são os telefonemas para o telefone fixo, que parece hoje ver cada vez mais esvaziada a sua função de meio de comunicação. Hoje é quase só um veículo promoção usado “contra” mim. Para alem de algumas pessoas de família mais velhas quase ninguém usa o telefone fixo para ‘falar’ ou ‘conversar’. No entanto não passa um dia sem que eu receba um ou mais telefonemas, a venderem seja o que for. Vendem férias, segurança, serviços de limpeza, cartões de crédito, crédito pré-aprovado (sim, há quem venda crédito), seguros, novas e fabulosas tarifas telefónicas, tarifas combinadas para tv, telefone fixo, telefone móvel e internet, sessões de maquilhagem com oferta de um produto por cada dois que se comprem, etc. Considero uma invasão e falta de respeito que empresas com que nunca lidei telefonem para casa ao final do dia a venderem os seus produtos ou serviços. Dantes, depois das “apresentações” e depois de ouvir o(a) interlocutor tratar-me por senhora seguido do meu primeiro nome, (os mais sofisticados tratavam-me por senhora seguido do primeiro e último nome) explicava que considerava esse telefonema abusivo, perguntava como tinham encontrado o meu número, acabando por demorar algum tempo neste dialogo. Isso acabou rápido, agora sou mais radical: mal ouço “boa noite, está a falar com ... da empresa...” corto logo a conversa, agradeço, digo que não tenho tempo e que não preciso de nada, não quero conhecer nada, e sobretudo não quero comprar nada. E no mesmo sopro desejo uma boa noite e desligo. Muito eficaz.

Há finalmente outro tipo de telefonemas que, no entanto, se vêm fazendo mais raros: os estudos de mercado ou os de opinião. Para esses tento encontrar paciência e tempo para responder, porque às vezes são longos e chatos, sobretudo aqueles em que, marca a marca (de detergente, de espaço comercial, de meio de comunicação social, etc) nos perguntam o nosso grau de conhecimento da dita. Tenho sorte quando não caibo na categoria etária (ou de género): querem um homem dos 18 aos 25, por exemplo. Às vezes tenho azar, e o telefonema prolonga-se, como quando me telefonou uma senhora solícita de sotaque brasileiro que, feliz e encantada da vida, me diz estar naquele momento a começar a trabalhar nessa função e que eu sou o seu primeiro telefonema. A solícita senhora achou por bem comentar cada resposta minha, partilhando a sua experiência também. Foi algo surreal, mas diverti-me tal era o seu entusiasmo e nem tive coragem de lhe dizer que não se comenta e muito menos se conversa: a sua função é registar, passar rapidamente à pergunta seguinte para fazer o máximo de chamadas, mas ao fim de três ou quatro telefonemas ela vai perceber isso.

24/10/11

Velas 30

Indignation

Gosto de Philip Roth sobretudo nos romances pequenos (novelas): Dying Animal, Everyman (um favorito) por exemplo, e agora Indignation lido há pouco. Gozei cada linha e foi um prazer voltar a ler Roth. A força da sua escrita é extraordinária sempre, mas nestas obras mais pequenas parece ganhar em sensibilidade, e até em subtileza, mesmo quando nada mais na narrativa é subtil. A história é a da pujança da juventude, dessa força em bruto em toda a sua beleza e simplicidade, sem nuances deslocadas ou forçadas. A narrativa começa de forma simples e vai ganhando corpo. O jovem Marcus (um judeu filho de um dono de talho kosher) dá os primeiros passos na sua afirmação como indivíduo adulto longe dum pai que adora,

What I learned from my father and what I loved learning from him: that you do what you have to do.

mas que o sufoca de amor e preocupação, uma preocupação que imediatamente se sente como premonitória. Ao sair de casa para uma universidade suficientemente longe para permitir o seu afastamento da família, Marcus depara-se com um mundo novo longe do talho e do bairro judeu, onde tenta encontrar o seu lugar entre pares e academicamente. A narrativa funciona em crescendo, assim como a vida com a sua complexidade a desabar sobre o jovem Marcus: primeiro o pai, depois os colegas de quarto, a universidade, a discriminação étnica (um dado adquirido), o sexo, as emoções amorosas, a namorada, a mãe,

“A girl so wounded as to do such a thing is not for you (...) She is a beautiful young woman, (...) she is well brought up. Thought maybe there is more to her upbringing than meets the eye. (...) You never know the truth of what goês on in people’s houses. I have nothing against her. I wish the girl luck. (...) But yoy are my only son and my only child, and my responsability is not to her but to you. You must Sever the connection completely. You must look elsewhere for a girlfriend.”
“I understand”, I said.
“Do you? Or are you saying so to avoid a fight?” (...) This girl is full of tears. You see that the moment you look at her. Inside she is full of tears. (...) Because other people’s weakness can destroy you as much as their strengh can. Week peolple are not harmless. Their weakness can be their strengh."

Este é um dos vários diálogos e momentos de marcada intensidade dramática que lemos no romance. Falta uma peça chave de Indignation: a morte, que surge inusitadamente e permanece de forma curiosa.
(Continua)

21/10/11

Horae Subsicivae

Renoir
After the Bath

18/10/11

As coisas que vamos aprendendo: aparentemente o preço de um sargento israelita é o de 1000 homens e 27 mulheres palestinianos prisioneiros em Israel.

Mas como em tudo no mundo, sobretudo no mundo da política, interesses e diplomacia, nada é assim tão simples ou ingénuo quanto parece (ver aqui, por exemplo). No entanto por muito que se analise, perceba e desvende, a ‘headline’ mantém-se e é extraordinária.

13/10/11

Crónica Feminina 10

12/10/11

Mais notícias sobre a Primavera Árabe no seu melhor ou a imagem da jovem e tão desejada democracia egípcia.



Se isto se passasse no tempo de Mubarak, a comunidade internacional não parava de berrar e teríamos inúmeras manifestações em diferentes cidades de protesto contra a repressão egípcia, e a comunicação social ocidental indignava-se alto fazendo eco de qualquer espirro de protesto. Assim lêem-se umas notícias, em que as explicações de que ainda estão a aprender o que é a democracia são tacitamente aceites, e ninguém sai à rua para contestar ou protestar. Como se a morte de 24 pessoas (e a demissão de um ministro) fosse nada mais do que um infeliz, mas compreensível, efeito colateral do caminho para a democracia. Já percebemos que 1 morto com Mubarak vale bem mais do que 24 na era pós-Mubarak.

11/10/11

Uma Good Wife


As terças-feiras são uma boa (e cada vez mais rara) noite televisiva. As segundas são do Dr. House (estamos ainda à espera da nova, e parece que última, temporada), mas as terças são de Alicia, Alicia Florrick, uma verdadeira good wife, da série The Good Wife, título bem achado a insinuar a ambiguidade da sempre discreta e enigmática Alicia. Alicia e House só têm em comum a inteligência, pois ela é o que House não é, mas é-o tão bem que exerce sobre o espectador o mesmo tipo de fascínio e a vontade de não perder um único episódio. Finalmente Hugh Laurie encontra rival à sua altura e nós encontramos uma boa série. Julianna Margulies, que conhecíamos como enfermeira em ER, e ‘namorada’ de Clooney nessa série, merece os prémios que tem ganho.

Por falar em séries, Dowton Abbey (que já vi há uns tempos) já aí está na Foz Life para os saudosos de Upstairs Downstairs e de uma vida com mordomos, nostálgicos de outros tempos em que as pessoas se vestiam para jantar e amantes de séries históricas britânicas. A sempre fantástica Maggie Smith é Violet, Dowager Countess of Grantham, uma personagem impagável.

Nota: Hugh Laurie, um improvável 'beauty icon' nos recentes vídeos dele como modelo da linha L’Oréal para homem. Fiquei convencida.

10/10/11

Dando Excessivamente Sobre o Mar 60

Winslow Homer
Northeaster

Da Primavera Árabe


Pelos vistos o caminho – que então, e para alguns, parecia tão luminoso – para a democracia tem-se revelado difícil



Que não sobrem ilusões: uma sociedade secular e respectiva tolerância religiosa misturam-se mal com o islamismo predominante de hoje: um islamismo de massas, cego e pouco evoluído, facilmente manipulado por opiniões e grupos radicais, pouco educado que tem como core da educação o Corão, e pouco estudo científico ou histórico. Não são os governantes ou algumas elites mais ‘moderadas’ (conceito perigosíssimo no contexto islâmico, também) que ditam o soprar dos ventos. As opiniões fazem-se desde bem cedo na vida de cada um: na família, nas escolas, nas mesquitas, nos bairros.

Os factos são indesmentíveis: há cada vez menos cristãos no Médio Oriente. No principio do séc. XX eram praticamente um terço da população. O Papa Bento XVI sabe bem do que fala quando diz que o cristianismo e os cristão são a religião e o grupo religioso mais perseguido no mundo, nos dias de hoje. No Egípto a procissão ainda vai no adro.

06/10/11

Cores de Outono 8

Justiça

Como já desabafei algumas vezes, a literatura para mim são os livros que leio, os que releio, os que quero ler, os que ainda não li e acho que devo ler, e eventualmente aqueles que nunca me apeteceu ler, mas... Os ditos ‘meios’ literários, as críticas de livros, as feiras do livro, a crise do livro, as editoras suas fusões e aquisições, a política do livro, e um sem fim de problemática sobre livros e literatura (que não são sinónimos, nunca é de mais referir) não me fazem bater uma pálpebra. O mesmo se passa com o prémio Nobel com a diferença que neste caso se trata de um prémio com uma imensa visibilidade e peso mediático (e financeiro). Normalmente nem me lembro que existem, nem nunca me lembrei de fazer prognósticos e exprimir desejos sobre A ou B merecedores do prémio, por isso os prémios nunca me desiludem e também nunca li um livro só porque A ou B foram ou são um prémio Nobel. Verdade seja dita que os escritores de que mais gosto estão todos mortos o que facilita este desprendimento. Por isso todos os anos, malgré moi, me divirto com os desejos e prognósticos que leio sobre os escritores merecedores da distinção e posteriormente do que leio sobre a justiça da atribuição do prémio. Aliás esta noção de ‘justiça/injustiça’ na atribuição dos prémios é a mais divertida. Como se ela fosse o principal critério selectivo e, caso o fosse, como é que se determinaria esse critério de ‘justiça literária’. Enfim, ficam os meus parabéns ao Senhor Tomas Tranströmer de quem pouco fiquei a saber pelas notícias que li na nossa imprensa on-line. Em breve lerei sobre a 'justiça/injustiça' do prémio. Resta-me dizer que, ao contrário das pessoas ‘do meio’, eu nem sabia que Tomas Tranströmer existia; poesia sueca não é o meu forte.

03/10/11

Amanhecer 32

Recomeçar

No fim de semana foi a fotografia de Duarte Lima que ocupou as páginas mediáticas, hoje é a fotografia da americana (e sempre angelical) Amanda Knox a ter destaque mediático por causa do mediatizado crime de que foi acusada. Confesso quer uma quer a outra notícia me deixam um pouco desnorteada. Nós vamos arrumando o nosso mundo conforme podemos, por uma questão de equilíbrio e de sobrevivência. Catalogamos, arquivamos, analisamos, ajuizamos, adaptamo-nos. Vamos (digo eu, e pressuponho eu) aprendendo a custo e estabelecendo, num processo que dura o tempo da nossa vida e que se mede em alegrias e sofrimentos, os nossos valores, a nossa noção de bem e de mal e aquilo que mais ou menos toscamente chamamos justiça. Melhor ou pior tentamos perceber, mas de repente, umas notícias de assassinatos levam todo este labor à estaca zero e recomeçamos de novo. É esta a história da vida, Sísifo sabe.

E começam as perguntas: uma menina com cara de anjo e bonitinha como as meninas ajuizadas americanas tentam ser, juntamente com um traficante de droga e o namorado da amiga, degola a amiga inglesa e companheira de quarto enquanto se encontram a estudar em Peruggia? Degola, repito. Não é dar um tiro, é degolar mesmo. Um conhecido advogado português de vida recheada de conhecimentos, favores, alguns até questionáveis como convém às vidas portuguesas recheadas, amigos, e também algumas vicissitudes, vai ao Brasil matar numa estrada no meio do nada, uma ‘velhota’ que já lhe teria transferido muito dinheiro por mais dinheiro ainda? As perguntas não são nem jurídicas, nem tão pouco irradiam alguma curiosidade quanto ao desfecho jurídico destes casos: os desfechos jurídicos nem sempre satisfazem: a dúvida, sempre ela, pairará seja ele qual for. As minhas perguntas têm a ver comigo e com esse labor de entender o mundo, de entender os seres humanos que o habitam, de me entender. Hoje recomeço, outra vez.

25/09/11

Coisas que se Podem Fazer ao Domingo 64

Cutileiro (Guimarães)


Fundar Nacionalidades.

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